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Revistas Edição 86

Piscina e Tratamento


PISCINA TEM DE SER MUITO BEM TRATADA
 
Jorge MacedoAutor do livro Piscina - Água & Tratamento & Química e de outros 20 livros sobre química de água, o doutor Jorge Macedo, bacharel em Química Tecnológica – Doctor Scientiae, participou de uma live no canal oficial da GENCO, em setembro – conduzida pelo repre­sentante David Roca – e parte desse conteúdo está reproduzido nesta entrevista. O PhD fala, entre outras questões, que os clorados orgânicos são de grande importância no tratamento de piscinas, uma vez que possuem propriedades diferenciadas. Além disso, ressalta que um dos grandes problemas nas piscinas atualmente são os inúmeros produtos cosméticos e medica­mentos, usados por adultos e crianças, que acabam sendo transferidos para a água e levam à formação dos chamados subprodutos da desinfecção (DBPs – Disinfection by-products), nocivos à saúde. Para o doutor Jorge Macedo, as piscinas são importantes para reunir pessoas e trazer felicidade, mas, para isso, é fundamental que sejam muito bem tratadas.
 
 
O que são clorados orgânicos? 
Primeiro, é preciso dizer que não existe cloro na natureza, mas as substân­cias químicas que possuem o átomo de cloro na sua estrutura molecular. Essas substâncias têm propriedades que, quando adicionadas em água, liberam ácido hipocloroso (HClO) que tem a capacidade de reduzir os mi­crorganismos que estiverem na água para níveis considerados seguros. Nem todas as substâncias químicas que têm cloro na sua molécula libe­ram ácido hipocloroso, como o sal de cozinha, por exemplo. No entanto, hipoclorito de sódio, hipoclorito de cálcio, dicloroisocianurato de sódio e ácido tricloroisocianúrico liberam ácido hipocloroso, assim como o cloro gás (Cl2), embora este último seja muito pouco usado no tratamento de água de piscinas. Agora, quando utilizamos a terminologia 'cloro estabili­zado', podemos confundir com dois derivados clorados existentes, que são os clorados inorgânicos (hipoclorito de sódio e hipoclorito de cálcio) com os clorados orgânicos (dicloro e ácido tricloroisocianúrico). Na verdade, ao misturar ácido cianúrico com clorado inorgânico teremos a estabilização do ácido hipocloroso. Há duas formas de ter ácido cianúrico na água: i) adi­cionado na forma sólida (pó) junto com os derivados clorados inorgânicos, como hipoclorito de sódio – NaClO; hipoclorito de cálcio [Ca(ClO2)], para aumentar a estabilidade e/ou presença de ácido hipocloroso (HClO) no meio aquoso – a concentração de ácido cianúrico não ionizado é depen­dente do pH; ii) Quando se utiliza os derivados clorados orgânicos, como dicloroisocianurato de sódio (DCIS – C3Cl2N3NaO3 ou C3Cl2N3NaO3.2H2O) e ácido tricloroisocianúrico (ATCI – C3Cl3N3O3), que no seu processo de hi­drólise liberam, além do ácido hipocloroso (HClO) para o meio aquoso, o ácido cianúrico, a sua ionização e a concentração de ácido cianúrico não ionizado são dependentes do pH. 
 
 
Qual a diferença entre os hipocloritos e o clorado orgânico? 
Se falarmos do hipoclorito de cálcio e de sódio, que são os dois mais uti­lizados, a primeira diferença é que um tem cálcio na molécula e o outro tem sódio, o que gera uma propriedade física, que é a solubilidade, com grande diferença entre os dois. O hipoclorito de cálcio é menos solúvel que o dicloro e o hipoclorito de sódio. Essa é a primeira diferença. O hipoclo­rito de cálcio é o único derivado clorado que faz parte do Fact Sheet 2.19 (folha informativa) da Organização Mundial da Saúde (OMS), publicado em 1996 e republicado em 2017, vinculado ao procedimento de preparo das soluções de Ca(ClO)2. O material informa que o produto sólido deve ser colocado em água e misturado dentro de um tanque, formando uma solução turva que deve ser deixada para decantar. A parte sobrenadante clarificada é transferida para outro tanque de armazenamento, não indi­cando a utilização do decantado. Quanto à estabilidade, se adicionarmos o hipoclorito de cálcio e o dicloro na água, em função da presença do áci­do cianúrico, teremos estabilidade muito maior do HClO gerado pelo de­rivado clorado orgânico. Quando se coloca um produto clorado na água formam-se novas substâncias, dentre elas o HClO – no caso dos clorados orgânicos gera também o ácido cianúrico-cianurato que é responsável pela estabilidade para o HClO. Depois que se adiciona a substância química clora­da na água não existe mais esse derivado clorado devido à sua reação com a água (hidrólise). Entretanto, podemos estabilizar um clorado inorgânico, desde que também seja adicionado o ácido cianúrico. Outra di­ferença importante é a adição de cálcio na água, no caso de ser utilizado o hipoclorito de cálcio, que contribui para o aumento da dureza. Na utilização do hipoclorito de cál­cio, precisamos somente analisar e manter a dureza. Se colocarmos dicloro, tricloro ou hipoclorito de sódio teremos de acrescen­tar os compostos de cálcio para aumentar e estabilizar a dureza. Há uma publicação da Association of Pool & Spa Professionals (APSP) – a associação de piscineiros norte-americanos – lançada em 2011 e republi­cada em 2014, indicando que cada vez que se colocar 1mg de cloro residual livre/L de água com hipoclorito de cálcio se adicio­na 0,8ppm de dureza cálcica nessa água. Outra questão importante é que clorados orgânicos são produtos para o processo de desinfecção química, porque têm a capaci­dade de eliminar organismos da água. Mas, se for usado derivado clorado orgânico para o processo de oxidação de matéria or­gânica, isso não vai funcionar. O hipoclorito de cálcio é um agente oxidante muito mais forte, mas tem menos estabilidade; o cloro residual livre se perde muito rapidamente e não mantém a forma de ácido hipocloroso por muito tempo no meio aquoso. Assim, a escolha do derivado clorado a ser utilizado depende de como o produto vai ser usado. 
 
 
A ação da luz solar tem influência na utilização do cloro estabilizado e não estabilizado? 
Tem. A radiação ultravioleta que chega à Terra através da luz solar – cujo compri­mento da onda é de 280 a 290 nanômetros (ηm) – e o cianurato e/ou ácido cianúrico absorvem em 220-215ηm, enquanto o hi­poclorito absorve em 290-280ηm. Isso sig­nifica que a luz vai atuar em cima do cloro residual livre porque o produto absorve essa luz solar, enquanto o cianurato e/ou ácido cianúrico não absorvem a luz UV. Quando o cloro está preso no sistema ácido cianúrico/ cianurato, a luz ultravioleta não consegue destruí-lo. Por isso, o ácido hipocloroso e hipoclorito (CRL) se mantém mais tempo na água. 
 
 
A superestabilização existe ou é um mito? 
Não existe! No material que publiquei há três referências bibliográficas, e uma delas é de uma universidade norte-americana, de 2018-2020, cujos autores afirmam que isso foi inventado pela indústria. Isso está vinculado à grande quantidade de sólidos totais e não à superestabilização. No mate­rial está descrito que para alcançar a supe­restabilização teria de alcançar 400ppm de ácido cianúrico no meio aquoso. Em 2019 foi publicado um artigo nos Estados Uni­dos, pela Agência de Proteção Ambiental Americana, com as constantes de ionização do ácido cianúrico, porque essa constante é que vai definir o estado do ácido cianú­rico no meio aquoso, se é não ionizado ou ionizado, conforme o valor de pH e tempe­ratura. Os pesquisadores calcularam que essa constante é de 5ºC a 35ºC. Eu fiz esses cálculos e cheguei à conclusão de que pre­cisamos ter na água 2.000ppm de ácido cianúrico para alcançar 400ppm na forma não ionizada e a tal superestabilização. Em 2003, um artigo do professor Gruber e Li, da Universidade de São Paulo (USP), com o título ‘Superestabilização, mito ou realidade?’ (reproduzido na revista Pool-Life – Piscina. Ano XXI, no 62, Edição Especial, 2003), informa que 2% da água de uma pis­cina é renovada toda semana. Uma piscina de 75m3, por exemplo, que tiver 50ppm de ácido cianúrico e receber mais 473g toda semana, vai levar pelo menos 10 anos para chegar em 150ppm. Fazendo novamente os cálculos para alcançar os 150ppm de sobra em um ano, precisamos de 13 anos. O professor não levou em consideração, na época, a constante de ionização. Resolvi refazer esse cálculo com as condições que temos hoje e cheguei à seguinte conclusão: para chegar a 150ppm de ácido cianúrico na água, considerando um pH da água da piscina em 7,34, a 25ºC, levaremos 43 anos. No meu livro, Piscina – Água & Tratamento & Química, ressalto quatro fake news sobre clorados orgânicos, porque temos de falar quimicamente a verdade para que o consu­midor tenha conhecimento. 
 
 
O excesso de ácido cianúrico na água da piscina prejudica a ação de desinfecção química com os cloros orgânicos? 
O excesso sim, mas o que se entende por excesso? Existe uma tabela no meu livro com os teores de ácido cianúrico com dados propostos por países, instituições e cidades, e cada uma com um valor diferente. Eu en­tendo que o valor que tem de estar na água é de 60ppm de ácido cianúrico na forma não ionizada, sem carga – porque o cia­nurato tem carga. A diferença entre os dois depende do pH e da temperatura da água. Minha posição é que deveria ser 60mg/litro de ácido cianúrico não ionizado. Se formos considerar os dois, vamos chegar perto de 90mg/litro. A Organização Mundial da Saúde indica no máximo 100mg/litro, mas não informa se é ácido cianúrico total – somando cianurato e ácido cianúrico não ionizado. Na minha visão, o que interessa é o ácido cianúrico não ionizado. Existem duas propostas muito simples de seguir: em 2016, foi feita uma proposta de que o teor de cloro residual livre é de 7,5% a 8% do teor de ácido cianúrico. Assim, se tiver 30ppm, vai colocar 2,4ppm de cloro residual livre. No ‘Model Aquatic Health Code (MAHC) Network Webinar’ com o título Cyanuric Acid: It’s Not Just About Crypto, promo­vido em janeiro de 2018 pela National Association of County and City Health Officials (NACCHO) com a participação do Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, foi afirmado que a relação entre ácido cianúrico e cloro residual livre tem de ser menor que 20. Se temos 60mg de ácido cianúrico, para dar 20 deve-se ter 3ppm de cloro residual. Se for 40ppm, com base nessa relação, indica-se 2mg de cloro residual. Acho que qualquer das duas fór­mulas resolve essa dúvida. Esse seminário envolveu muitos pesquisadores, todos PhD. Acho que podemos seguir essa relação no dia a dia. Em razão da pandemia, indico de 2ppm a 4ppm de cloro residual livre na água da piscina, para garantir total segurança para a saúde das pessoas do ponto de vista microbiológico.
 
 
Quais seriam os valores de pH e as tem­peraturas recomendadas em relação à ionização do ácido cianúrico? 
O valor da constante de ionização do ácido cianúrico foi identificado há pouco tempo, para a faixa de 5ºC a 35ºC por espectro­metria. Os dados foram apresentados em janeiro de 2019 através de um documen­to de acesso público disponibilizado pela United States Environmental Protection Agency (USEPA) – (Veja tabela 1, abaixo). A Equação de Henderson-Hassdelbalch é que relaciona matematicamente o 'pH' de uma solução tampão, no caso, ácido cianúrico e cianurato. Apenas como um exemplo, con­siderando o pKa = 7,07 (20°C) para calcular a constante de ionização, 7,07 = -Log Ka → Ka = 10-7,07 = 8,5113803 x 10-8. Utilizando a equação de Henderson-Hassdelbalch reali­zou-se os cálculos para relacionar o pH com as % de ácido cianúrico não ionizado (ACY) e % de ácido cianúrico ionizado (CY-), atra­vés de uma tabela e um gráfico – (Veja tabe­la 2, abaixo, e gráfico na próxima página). 
 
 
 
 
 
 
A GENCO recomenda o valor de pH en­tre 7,2 e 7,8. Dentro desta faixa estará tudo funcionando corretamente? 
Corretíssimo. O ideal é ficar na faixa de 7,4 a 7,6. Nesta faixa, usar a relação entre ácido cianúrico e cloro residual que eu citei ante­riormente estará correto e com completa segurança. 
 
 
Qual é a importância do ácido cianúrico no processo da desinfecção? 
O ácido cianúrico não tem função na desin­fecção, mas há outra função que é pouco discutida. Quando se coloca um derivado clorado na água, a partir daquele momen­to o que existe na água é ácido hipocloroso e ácido cianúrico ou cianurato, dependen­do do pH. Quem vai definir os caminhos do processo de desinfecção ou da liberação de ácido hipocloroso não são os clorados orgânicos. Depois que colocou o clorado orgânico na água, o ácido cianúrico é que será o norteador dessa estabilidade e des­se processo de desinfecção. Então, o ácido hipocloroso fica armazenado e vai liberan­do vagarosamente. Segundo uma pesquisa de 2009, a meia-vida do ácido hipocloroso gerado pelo hipoclorito de sódio é de 0,2 segundo; já o ácido hipocloroso gerado por um derivado clorado orgânico em função da presença do ácido cianúrico, é de 0,24 segundo. Isso significa que, quando se co­loca hipoclorito na água, o produto libera todo HClO de uma vez e dura menos tempo (nas condições desse experimento). Quan­do se coloca dicloro há uma liberação de ácido hipocloroso, em função da presença do ácido cianúrico – de acordo com a ne­cessidade do processo de desinfecção. Essa é a grande diferença. O ácido cianúrico tem uma propriedade física de estabiliza­ção da sua molécula – chamada isomeria tautomérica. As duplas ligações da molé­cula do ácido cianúrico mudam de lugar e a consequência disso é que, quando a luz ultravioleta chega nele, o ácido cianúrico muda a dupla ligação de lugar, não ab­sorve a totalidade da luz UV e não deixa o cloro residual ir embora. A função do ácido cianúrico é essa! A segunda função confir­mada envolve a formação de subprodutos DBPs (a primeira pesquisa foi realizada por FELDSTEIN, RICKABAUGH, MILTNER, em 1984), e demonstra que o ácido cianúrico reduz a formação do subproduto da desin­fecção. Acredito que o ácido cianúrico será, em breve, o que o cloro residual significa para o tratamento de água de piscina hoje. 
 
 
 
O que seriam esses subprodutos? 
O cloro combinado (Tricloramina) é um de­les, mas o grande problema são os ácidos haloacéticos e trihalometanos (THM), por exemplo. Em 1994-1997, quando fiz o dou­torado, só estudei os trihalometanos que se encontravam em água potável, e nem sabia da existência de ácido haloacético. Hoje, já são mais de 100 subprodutos já identifica­dos. Antigamente, só tínhamos preocupa­ção com matéria orgânica natural, como ácidos húmicos e fúlvicos – que são o último estágio da decomposição, por exemplo, das folhagens. Hoje, temos de nos preocupar com fluidos corporais (BFAs), cosméticos, fármacos, pois tudo isso está na água das piscinas. Tem um estudo mostrando que foi encontrada fluoxetina (usada para trata­mento da depressão) em 26% das piscinas pesquisadas e 0% de água de enchimento. O Ibuprofeno (anti-inflamatório) é encon­trado em 71% das piscinas. O retardador de chama (TCEP) foi encontrado na água em 65% das piscinas e era aproximadamente quatro vezes mais que em água de enchi­mento. O composto de repelente de insetos (DEET) estava em 100% das águas de pisci­nas. A pessoa ingere o remédio e a substân­cia vai para a água da piscina. A quantidade de cremes para cabelo e pele lançados nos últimos 17 anos é assombrosa, e isso tudo vai para a água! Com a presença de todos esses contaminantes começaram a apa­recer em grande massa os subprodutos (DBPs), que são tóxicos. A expressão da con­centração dessas substâncias na água não é em ppm, mas em ppb – parte por bilhão (μg/L). O ácido cianúrico é uma barreira para formar esses subprodutos, pois, com a presença do ácido cianúrico formam-se me­nos subprodutos na água. Mas não pense que são somente os derivados clorados que formam subprodutos: se houver radiação ultravioleta, ozônio e dióxido de cloro isso também vai ocorrer. Precisamos conhecer quais são as condições necessárias para se formar esses subprodutos e combater essas condições.
 
 
Esses subprodutos são perigosos para o ser humano? 
Os DBPs, que são subprodutos da desin­fecção, estão em todas as piscinas, podem ficar na água e ir para o meio ambiente. A preocupação não é somente de quem está nadando, mas de quem está no entorno e poderá estar respirando esses subprodutos. O problema é que os DBPs são cumulativos no organismo. Quando ocorre queda da imunidade, esse acúmulo pode contribuir para levar ao câncer, por exemplo. New Orleans, na década de 1970, era a cidade com maior número de casos de câncer nos Estados Unidos. Quando os cientistas foram estudar esse fenômeno descobriram que o problema vinha da água potável, em fun­ção da formação dos THMs, ou seja, existia uma correlação positiva entre casos de cân­cer e água potável. Mas isso pode ser evita­do com controle dos fatores que favorecem a formação de DBPs, e dentre as formas de reduzir a sua formação está a presença do ácido cianúrico. O problema é que a con­centração dessas substâncias na água, para ser tóxica, é muito baixa – em parte por bilhão (μg/L), para os ácidos haloacéticos (HAAs) a concentração máxima indicada é 60 μg/L, para os trihalometanos (THMs) é 100 μg/L –, ou seja, são valores muito fáceis de serem alcançados nas águas de uma pis­cina. E todos os frequentadores de uma pis­cina bebem água quando nadam ou brincam. Tem uma pesquisa da OMS, do ano de 2000, indicando que cada vez que uma criança coloca 5mL de água da piscina na boca, se ingere 0,5mL por respiração. Como respiramos em torno de 1000 vezes em uma hora, uma criança que fica o dia inteiro na piscina, brincando, jogando água da boca nos amigos, ingerirá 500mL da água muito facil­mente. Para ter certeza dos valores de ingestão de água, os pesquisadores avaliaram o teor de ácido cianúrico na urina de nadadores depois de nadarem por duas a três horas. Os voluntários fizeram exame de urina e os pesquisadores encontraram um teor de ácido cianúrico nessa urina, que era proporcional à quantidade de áci­do cianúrico que havia na água da piscina. Em 2017, os pesquisadores consideraram que o ácido cianúrico é um biomarcador e passa pelo organismo sem ser metaboli­zado. Assim, não pode ser tóxico se é eliminado comple­tamente do organismo. Se não é metabolizado, não tem toxicidade. Por isso, acho que se tornará uma referência! 
 
 
Como o tratador pode saber se está formando DBP na piscina? 
Uma das formas de avaliação é pela queda do cloro resi­dual. O DBP leva de uma hora a três dias para se formar e, se seus precursores e intermediários forem retirados neste período, acabou o risco. Se o tratador perceber que o teor de cloro residual está caindo muito, deve fazer uma filtração alternativa como, por exemplo, no carvão ativado que, por adsorção, consegue reduzir a concen­tração de todas essas substâncias da água. 
 
 
Nas piscinas verdes por algas, qual a recomendação de supercloração e que tipo de cloro deve ser usado? 
Ácidos húmicos e fúlvicos são provenientes do último estágio de degradação de folhagens e a água verde ocorre porque a alcalinidade ficou baixa. A alga, quan­do vai crescer, precisa de matéria orgânica e luz do dia, e à noite precisa de gás carbônico. Se diminuir o pH da piscina forma gás carbônico; se aumentar o pH forma bicarbonato. De noite, quando a alga precisa de gás carbônico, se o pH diminuir porque a concentração de bicarbonato na piscina está baixa, a água ficará verde. Se chover também vai ficar verde, porque o pH da chuva é ácido e vai diminuir o pH da água da piscina – diminuir a concentração de bicarbonato aumenta a quantida­de de gás carbônico. O pH fora da faixa vai gerar uma série de consequências muito ruins para a piscina, pois pH de 7 para baixo facilita a formação dos ácidos haloa­céticos e pH acima de 7,9 facilita a formação de THMs. Já os DBPs são formados em função da quantidade de fluidos corporais, de resíduos de cosméticos e fármacos na água. Para se ter ideia, apenas sete países no mundo têm controle dos DBPs nas águas das piscinas: os mais evoluídos como Alemanha, Finlândia, Suécia, Dina­marca, Bélgica, Reino Unido e França, que estudam isso desde 2014-2015. Mas, o primeiro evento que discutiu os DBPs mundialmente foi em agosto de 2019 nos Estados Unidos. O evento World Aquatic Health Conference, com o título ‘The Impact of Disinfection Byproducts and Combined Chlorine on Air and Water Quality’, foi orga­nizado pela Pool & Hot Tub Alliance (PHTA), Formerly The Association of Pool & Spa Professionals/National Swimming Pool Foundation. A PHTA é a maior e mais antiga associação do mundo representando fabricantes de piscinas, banheiras de hidromassagem e spas, distri­buidores, agentes de fabricantes, designers, construto­res, instaladores, fornecedores, varejistas e profissionais de serviço. Em resumo, todo o setor que envolve piscinas está preocupado, pois o problema não é somente de quem está dentro da água e sim de todos os profissio­nais no entorno, como os piscineiros, pois irão respirar esses DBPs que, em função da baixa concentração, não sabem que estão respirando e que são cumulativos no organismo. Para a próxima Expolazer, quando se vai discutir tratamentos, teremos de sugerir mudanças de comportamento na piscina. Por exemplo, se o usuário tomar uma ducha antes de entrar na água já retira de 60% a 65% dos BFAs do corpo. Além disso, não se pode desistir de ter um pedilúvio antes de entrar na área da piscina para desinfecção dos pés. Porque as pessoas saem direto de vestiários, banheiros e outras áreas e en­tram na área da piscina e na água! Esses procedimentos de higienização serão adaptados. 
 
 
É possível reduzir o ácido cianúrico por meio da aeração? 
Somente se trocar a água da piscina. Por isso, afirmo que o ácido cianúrico terá de ser controlado igual ao cloro residual; todo mundo vai ter de medir. 
 
 
Os clorados orgânicos são prejudiciais à saúde? 
Para ser prejudicial teria de colocar o produto direta­mente na boca, porque quando é adicionado na água sofre hidrólise (reação com a água), forma ácido hipo­cloroso e ácido cianúrico/cianureto, e não existe mais o derivado clorado. A legislação brasileira tem uma refe­rência, chamada de DL50, que é um número de quantas mortes ocorrem em 100 unidades de avaliação. Quan­to menor a DL50, mais tóxico o produto e vice-versa. A DL50 de referência para os clorados é, no mínimo, de 500 mg/Kg de peso corpóreo; para o ácido tricloroisocianúri­co é de 600mg por peso corpóreo; para o dicloroisocia­nurato de sódio é 1670mg/Kg de peso corpóreo. Para o ácido cianúrico, a DL50 é >10.000 mg/Kg de peso cor­póreo; para o cianurato de sódio é de >7.500 mg/Kg de peso corpóreo. Pelos valores citados nota-se claramente que os produtos da hidrólise dos clorados orgânicos são muito menos tóxicos que os produtos puros! Quando se coloca na água a toxicidade diminui muito. 
 
 
A água potável pode ser tratada com dicloro e tricloro? 
O Brasil utiliza derivados clorados orgânicos desde 1994 para tratamento de água potável de abastecimento, e o tricloro já era usado desde 1997 em muitas cidades do interior de São Paulo. No Norte e Nordeste, por exemplo, 1.234 cidades são atendidas com a utilização de deriva­dos clorados orgânicos no tratamento de água potável, e mais de 47 milhões de pessoas utilizam essa água tratada – são consumidos mais de 3 milhões de Kg/ano do DCIS e 177 mil Kg/ano de ATIC. Não existe qualquer relato de surto ou intoxicação em massa da população porque, quando colocado na água, o resultado é menos tóxico do que o produto puro. A norma ABNT NBR 15.784 permite o uso de dicloro e ácido tricloro para consumo humano. 
 
 
Deve-se utilizar cloro orgânico em piscinas cobertas? 
Sim, porque vai liberar ácido hipocloroso. Se a piscina estiver com muita matéria orgânica, por ser de alta de­manda, terá de usar um oxidante para diminuir a ma­téria orgânica, fazer o processo de desinfecção, ajustar o pH e a alcalinidade. Não há diferença, mas na pisci­na coberta o fator temperatura facilita a formação de DBPs, por isso, tem de ter um pouco mais de cuidado. Quem respira esse ar todos os dias acaba ficando com problema respiratório.
 
 
Qual seria sua sugestão para os tratadores? 
A primeira coisa que os piscineiros devem perguntar aos clientes é como será o uso da piscina e quantas pessoas vão usar. Isso é importante para que saibam como tratar aquela água. Porque se entrarem mais pessoas do que a piscina comporta, o tratamento não vai funcionar. A carga de banhistas é um fator que tem de ser controlado e é fundamental na formação de DBPs! 
 
 
É correto oxidar uma piscina tratada com cloro e peróxido de hidrogênio? 
O peróxido de hidrogênio é extremamente efetivo no pro­cesso de desinfecção, é um oxidante fortíssimo. No entan­to, sabemos que se colocarmos dois oxidantes juntos vai ocorrer uma reação exotérmica. Se misturar dicloro com hipoclorito de cálcio ou de sódio vai explodir. Vejo um risco muito grande de usar um peróxido de hidrogênio na concentração de 160 volu­mes de oxigênio ou 50% de matéria ativa e colocar produtos químicos juntos. Eu não colocaria, porque o risco de ter um problema no manejo dessas substâncias químicas é muito grande e, se colocar em um ambiente não adequado ou em local mais quente, vai pegar fogo. Portanto, na minha visão, é um risco muito grande. 
 
 
Qual é a importância do potencial de óxido-redução no tratamento? 
Esse é outro fator que ninguém vai poder ficar sem medir. Porque o método para controlar o cloro residual e a capacidade de inativação de microrganismo é o potencial de óxido-redução. É um equipamento bara­to, em torno de US$ 25 (cerca de R$ 160,00 no dólar atual). Se medir a água e der um potencial acima de 700 até 750mv, todos os microrganismos estão inativados. O pis­cineiro terá um dado importante para ga­rantir aos proprietários que não há risco de contaminação microbiológica na água da piscina. Outra informação importante é que o valor do POR indica a perda de CRL (HClO) de forma imediata e permite tomar decisões para controlar a formação dos DBPs. 
 
 
O clorado orgânico consegue eliminar o coronavírus na piscina? 
Os vírus são conhecidos principalmente por causarem várias doenças e serem considera­dos parasitas intracelulares obrigatórios. O material genético, normalmente, é de ape­nas um único tipo (DNA ou RNA), apesar de alguns vírus apresentarem os dois tipos (ci­tomegalovírus). No caso do coronavírus, seu genoma é de RNA. Para o vírus chegar ao ser humano precisa ser por intermédio de um aerossol de água (gotículas de água) que sai da boca de uma pessoa infectada e atin­ge as vias aéreas da outra. Assim, dentro de uma piscina não é possível pegar Covid-19. No entanto, toda superfície de água tem um aerossol acima, como se fosse uma nu­vem de gotículas muito pequenas que não é vista a olho nu. Se o indivíduo estiver em uma piscina clorada, esse aerossol também estará com residual de ácido hipocloroso e o vírus não vai sobreviver. A contaminação poderá acontecer fora da água, mas não na piscina. A Agência de Proteção Ambiental Americana soltou recentemente uma lista de princípios ativos com capacidade de eli­minar o novo coronavírus. Constam da lista, entre outros, ácido hipocloroso, hipoclorito de sódio, dicloro anidro e hidratado, mas não consta hipoclorito de cálcio e ácido tri­cloroisocianúrico. Não sei por que, uma vez que a única propriedade que ambos têm em comum é a solubilidade ruim. 
 
 
O senhor participa da revisão da norma 10.818 da ABNT, que aborda o trata­mento de piscinas. Qual é a importância dessa revisão? 
O mais importante dessa revisão da ABNT é que os piscineiros foram convidados a falar. É a primeira vez que isso acontece, afinal, o profissional que está cuidando de uma piscina tem muitas informações fun­damentais para essa revisão. As pessoas que cuidam de piscinas não podem colocar qualquer produto na água, precisam co­nhecer esses DBPs, porque o controle dessas substâncias é muito importante. Agradeço a oportunidade de ter feito a live com a GENCO® e estar nesta entrevista, porque ainda acontecem verdadeiros absurdos na área de tratamentos de piscinas aqui no Brasil e também na Europa e nos Estados Unidos. A piscina faz agregação social, traz felicidade, reúne pessoas em volta da água e, para ter uma piscina maravilhosa, ela tem de ser bem tratada. 
 
 
Como fazer para adquirir o seu livro? 
Está no meu site www.aguaseaguas.com. Basta seguir o procedimento de compra e mandarei o livro autografado. Indico que todos visitem www.aguaseaguas.com e, no link ‘águas de piscinas’, façam download do review ‘Ácido Cianúrico – Características fí­sico-químicas, dispersão no meio ambiente, toxicidade, formação de DBPs (Disinfection by-products), interferência na alcalinidade e no processo de desinfecção’. 
 
 
A live está disponível no https://youtu.be/Jq3hAF78aKk

Revista da Piscina - Primavera/Verão 2020







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